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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Os discos de ouro das Voyagers



Quando as sondas Voyager 1 e Voyager 2 foram lançadas em 1977, todos esperavam as mais variadas respostas sobre vários mistérios do nosso Sistema Solar. Naturalmente elas responderam algumas perguntas mas geraram muitas outras, como todo grande projeto científico de sucesso. Programadas para estudar o Sistema Solar Externo (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno), elas foram as primeiras sondas a usarem a gravidade dos planetas como combustível (eu gosto de definir como combustível) visto que deixava deliberadamente a gravidade atraí-las para realizar manobras e adquirir velocidade.

De fato, estas sondas foram pioneiras (não confundir com a série de sondas Pioneer :)) em vários aspectos, mas um em especial sempre me interessou mais do que os outros: as Voyagers carregam a bordo um disco fonográfico de cobre revestido de ouro com vários sons e imagens das diversas características das culturas do planeta Terra. Estes discos foram projetados para os seres que, caso encontrem estas bambinas, tenham a idéia de como a humanidade é e onde se encontra o planeta Terra.


Capa do disco
Dentre as missões das Voyagers não estavam previstos contatos com extraterrestres, obviamente. Mas os cientistas selecionaram 115 imagens, 35 sons naturais do planeta Terra, saudações em 55 línguas diferentes e algumas músicas especiais de várias gerações para se gravar no disco. Todas estas mídias foram selecionados por um comitê da NASA gerenciado por ninguém menos que Carl Sagan, o mestre.
Para a localização do Sol, foi utilizado um sistema parecido com o de GPS, mas utilizando-se da posição de 14 Pulsares e não de satélites. Entre as imagens selecionadas estão representações Matemáticas (Matemática, a língua universal), fotos do Sol e de planetas do Sistema Solar, composição química de algumas moléculas, imagens da anatomia humana e várias fotos de pessoas, animais e paisagens, incluindo o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Os sons são os mais cotidianos possíveis como máquinas, animais e fenômenos da natureza como vento e trovões. Existe também uma mensagem em código Morse que diz em Latim per aspera ad astra (até as estrelas, em meio às adversidades).


Aqui está a face do disco. Ele foi projetado para ser tocado em 16 ⅔ rotações e também foi incluída uma agulha para a leitura dos dados.
Na parte musical foi incluída obras de Bach, Beethoven, Stravinsky e Mozart. Está lá também Johnny B. Goode, de Chuck Berry (boa Sagan!). E eu agradeço cada vez que leio que estas maravilhas foram lançadas nos anos 70. Imagine só as músicas que seriam colocadas nos discos se as sondas tivessem sido lançadas nos dias atuais... Sagan também queria incluir Here Comes the Sun, dos Beatles, mas a gravadora EMI não deu sua autorização. Parabéns EMI, desde 1977 lutando contra pirataria, mesmo que fora do Sistema Solar!


Johnny B. Goode por Marty McFly
Além de tudo isso, foi galvanizado no disco uma amostra ultra pura do isótopo urânio-238. Como o urânio-238 tem uma meia vida de 4,5 bilhões de anos, a civilização que encontrar a Voyager poderá calcular a idade do disco. Sensacional, não?
As Voyagers já saíram da órbita de Plutão faz tempo e dados de 2005 mostram que elas já ultrapassaram a marca de 10 bilhões de quilômetros. A Voyager 1 está a mais de 17 bilhões de quilômetros em dados de 2010. A comunicação entre as sondas e a Terra demoram mais de 12 horas para viajar esta distância.
Embora não tenham sido projetadas para chegar em nenhuma estrela, invariavelmente elas passaram perto de alguma, mas demorará dezenas de milhares de anos.
A fabricação dos disco celebra a união entre todos os seres da Terra e coloca todos dentro do mesmo cesto: seres que habitam este pálido ponto azul. E principalmente eu penso que os discos nos colocam a frente de nossos olhos as verdadeiras virtudes da nossa existência: minúscula e especial ao mesmo tempo. E seu papel já foi cumprido com louvor, tanto dos discos, como das sondas!